segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Museu Militar



No local em que hoje se encontra o Museu Militar de Lisboa, foram construídas, no tempo do Rei Dom Manuel I, umas edificações designadas por “Tercenas das Portas da Cruz”.
Supõe-se que, no tempo de Dom Sancho II, existia já um arsenal em Lisboa situado, talvez, por alturas da Ribeira Velha, fronteira ao Bairro de Alfama. Um violento incêndio, que deflagrou em 1396, obrigou a mudar estas Tercenas (ou “taracenas” como então eram conhecidas) para a Ribeira das Naus.
Por outro lado, admite-se a existência de vários arsenais, localizados nos principais portos, e foi a necessidade de os alimentar que terá levado Dom Dinis a mandar plantar o Pinhal de Leiria em 1290.
D. Fernando deu grande incremento à construção naval, e foi no seu tempo que apareceram as tercenas navais como verdadeiros arsenais.
As Tercenas da Porta da Cruz – criadas ou melhoradas por Dom Manuel I – constituíam um verdadeiro formigueiro humano trabalhando dia e noite. Nelas se construíam toda a espécie de barcos utilizados na época. Ao mesmo tempo, foram estabelecidos depósitos para guardar e conservar o material de guerra, e montadas oficinas para a fabricação de pólvora. Convém lembrar que, ao tempo, o fabrico da pólvora e da artilharia estava, em grande parte, a cargo de particulares. As Tercenas da Porta da Cruz, estendiam-se por uma zona que hoje se poderia delimitar, aproximadamente: a Norte, pela Rua dos Remédios; a Oeste, pelo Largo do Museu de Artilharia; a Sul, pelo Rio Tejo (que nos princípios do século XVI avançava mais para Norte, estendendo-se até próximo dos locais em que hoje se encontram os edifícios do Museu e da C.P) e a Leste, pela Calçada do Forte e Largo dos Caminhos de Ferro.
As oficinas destinadas à fundição localizavam-se no rés-do-chão das edificações, e o local era conhecido por “Fundição de Baixo”. Os Reis Dom João III e Dom Sebastião melhoraram bastante as tercenas e os depósitos de armas. O fabrico de pólvora, artilharia e armas ligeiras, continuou tal como no tempo de Dom Manuel I.
Em 28 de Dezembro de 1640, julgou-se conveniente dar uma atenção mais particular ao fabrico do armamento e da pólvora (face à crise que se avizinhava, como consequência da independência adquirida dias antes), e assim foi criada a “Tenencia”, à qual competia o fabrico, aquisição, guarda, conservação e distribuição de armas ligeiras, artilharia e outro equipamento, tanto para serviço de terra como para as armadas. Este novo órgão tinha as suas dependências por cima das oficinas da “Fundição de Baixo”, isto é, onde hoje se encontram a Direcção e os Serviços do Museu.
O Chefe da Tenência era o Tenente-General da Artilharia do Reino, e, apesar da sua designação, o cargo era civil, não exigindo significativos conhecimentos militares. Com o crescente desenvolvimento da actividade das tercenas, entre 1716 e 1732 Dom João V mandou construir a “Fundição de Cima”, perto do local onde, posteriormente, se instalou a Direcção da Arma de Artilharia.
No primeiro quartel do século XVIII, alguns edifícios das tercenas das Portas da Cruz foram destruídos por incêndio e, mais tarde, completada esta destruição pelo terramoto de 1755, já no reinado de Dom José. Nesse mesmo ano, foi o casario do lado Norte cortado por uma rua, que se denominou, inicialmente, por Calçada Nova, hoje conhecida por Rua do Museu de Artilharia. Esta artéria destinou-se à passagem da zorra que transportou, da Fundição de Cima até ao Terreiro do Paço, a estátua de Dom José.
Em 1760, Dom José deu início à reconstrução de todos os edifícios destruídos. Pela mesma altura – 1764 – ficou concluído o restauro do edifício em que hoje se encontra parte do Museu. De harmonia com o plano inicialmente estabelecido, havia um piso térreo e um primeiro andar com cinco salas de armas e, ainda, uma sexta sala, de menor importância, dando saída para o pátio a Leste, obras só completadas uma centena de anos depois. O pórtico da entrada principal, a Oeste, foi delineado pelo engenheiro francês Maurice de Larre – contratado por Dom João V, embora alguns historiadores atribuam este pórtico ao engenheiro húngaro Carlos Mardel.
Sob a direcção de Bartolomeu da Costa, e desde a sua fundação em 1764 até 1802, o Arsenal chegou a ter 23 oficinas com cerca de 2000 operários, e, também, que o Arsenal se estendia para os locais em que presentemente se situa o Estado-Maior do Exército, no qual se encontravam as dependências que se destinavam às aulas e alojamentos dos aprendizes do Arsenal. Com a morte de Bartolomeu da Costa, em 1802, a actividade do Arsenal diminui consideravelmente e a sua situação só melhorou com Dom Pedro IV.
No início do século XIX foi fechada a ala oriental do pátio interior e aberto, ao centro, em 1890, um pórtico desenhado e decorado pelo escultor Teixeira Lopes, que dá hoje acesso ao Largo dos Caminhos de Ferro. Na mesma data em que se fechou a parte Leste do pátio (1905), foram criadas oito novas salas no primeiro andar. Nos primeiros anos do século XX, a fachada Sul (voltada ao Tejo) foi decorada pela aplicação das colunas que estavam na capela do Marquês da Foz, às quais se sobrepôs, acima do entablamento, uma platibanda encimada por um relógio.
Assim, desde 1905, encontra-se este Museu Militar com a configuração que hoje apresenta e se pode admirar. 

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