sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Terreiro do trigo / Antigo celeiro publico da cidade de Lisboa


«O CELEIRO PÚBLICO DE LISBOA ( 1 ) »
O vasto edifício de três andares, com cerca de 110 metros de comprimento por 30 de largura, ocupando todo o lado Sul da «RUA DO TERREIRO DO TRIGO» e construído em 1765 a 1768, para substituir o «TERREIRO DO TRIGO» ou «TERREIRO DO PÃO» - descrito no Sumário: "pegado com o mar está a casa do terreiro do trigo, grande e formoso posto em trinta e dois arcos, repartidos em duas partes por oitenta casas onde se recolhe todo o pão de que se provê a cidade, e o mais do termo" (1) - de origem «MANUELINO», na construção actual «POMBALINA».
Por ter funcionado até 1777, sob a tutela do «SENADO DA CÂMARA DE LISBOA», ostenta a pedra de armas desta instituição nos cunhais Nordeste e Noroeste.
Hoje, é sede da «DIRECÇÃO DAS ALFÂNDEGAS DE LISBOA E IMPOSTOS ESPECIAIS SOBRE O CONSUMO», depois de, durante alguns anos, ter sido o «MERCADO CENTRAL DE PRODUTOS AGRÍCOLAS».
Na versão original, e repetindo a planta do velho «TERREIRO DO PÃO», o edifício era construído por duas alas semelhantes e paralelas a todo o comprimento, separadas por largo corredor a céu aberto e ligado pelas fachadas Leste e Oeste, de três corpos, em que, no central, de cantaria e terminando por frontão triangular, se abrem os portões de acesso ao corredor.
Os carros que transportavam as mercadorias entravam por um dos lados e saíam pelo outro, contactando, na passagem, com as lojas dos comerciantes, dispostos de um e de outro lado do percurso.
A longa fachada voltada ao Norte tem no corpo central, sobre a porta, a seguinte inscrição: JOSÉ:I. AUGUSTO INVICTO PIO REI E PAI CLEMENTISSIMO DOS SEUS VASSALOS PARA ASSEGURAR A ABUNDANCIA DE PÃO AOS MORADORES DA SUA NOBRE E LEAL CIDADE DE LISBOA E DESTERRAR DELA A IMPIEDOSA DOS MONOPÓLIOS DEBAIXO DA INSPECÇÃO DO SENADO DA CÂMARA SENDO PRESIDENTE DELE PAULO DE CARVALHO MENDONÇA MANDOU EDIFICAR DESDE OS FUNDAMENTOS ESTE CELEIRO PÚBLICO ANO MDCCLXVI (1766).

---
O edifício é notável e beneficia de alguns pormenores técnicos originais, cuidadosamente pensados e executados, patentes em especial no desenho da fachada virada a Sul, hoje na actual «AVENIDA INFANTE D.HENRIQUE», onde à data da sua fundação chegavam as águas do Tejo, as quais, certamente, na época das cheias, podiam galgar o cais que então existia; esta circunstância explica o jorramento de cantaria que se observa na base da fachada. E, como o edifício se destinava a armazéns de trigo, acumulava-se o cereal contra as paredes mais aquecidas, que são as voltadas ao Sul, o que exercia sobre estas paredes uma pressão suplementar; para reforço, foram criadas gigantes de cantaria na zona inferior, que arrancam do solo e vão morrer junto à cimalha geral, distribuídos a espaços regulares, oito em cada lado do pano central da fachada, definido por duas pilastras.
No meio das pilastras abre-se um portal, de grande efeito arquitectónico e por cima, sobre plataforma de cantaria apoiada em robustas consolas divergentes, uma janela de sacada entre dois remates piramidais adoçados à parede, parcialmente cobertos por salientes espigas de trigo.
Embora não visível do exterior, e talvez mais engenhoso o reforço da parede Sul do bloco Norte do edifício só observável da passagem interior, também era utilizado para depósito do cereal, por beneficiar do calor do sol.
Quando a utilização do edifício mudou para a actual, os artifícios técnicos descritos perderam todo o sentido. A passagem longitudinal média, a céu aberto, foi coberta e alterada a disposição de alguns espaços interiores; e os gigantes, de funcionais passaram a decorativos, numa fachada de grande impacto visual.
Este espaço funcionava como depósito obrigatório, mercado regulador e alfandega de trigo e outros cereais, proibindo-se a venda fora do terreno, sob pena de multa e de açoites com baraço e pregão. O «CELEIRO DE PORTUGAL», assim lhe chamou o padre «DUARTE DE SANDE», na centúria de quinhentos, não deixando de enaltecer a mestria das padeiras alfacinhas e o «SABOR FINÍSSIMO» do seu pão.
Não se pode imaginar a miscelânea de gente que davam vida e cor a esta local. Se os moços vadios e amigos do alheio que por aqui abundavam não destoam num cenário onde outrora se realizavam «EXECUÇÕES CAPITAIS», já o mesmo não se pode dizer da convivência entre os carregadores do trigo e as centenas de «MEDIDEIRAS», que ali trabalhavam e cuja reputação deveria ser incontestável, pois teriam de ser "casadas ou viúvas honestas, mulheres de homem de idade, que não presuma delas fazerem o que não devem".
---
O «CELEIRO PÚBLICO DE LISBOA» há muito que cessou a função para que foi destinado. Com o aparecimento das fábricas de Moagem e em determinada época foi o «GRÉMIO DO TRIGO» que se encarregava de gerir o cereal.
O tão falado "agasalho do pão" do tempo de «D. MANUEL I», tomou então variantes, hoje irreconhecíveis na expressão orgânica e administrativa.
Neste edifício funcionou o «MERCADO CENTRAL DE PRODUTOS AGRÍCOLAS», e recebeu obras de limpeza em 1911, tendo funcionado até Março de 1937, os seguintes serviços: «DIRECÇÃO GERAL DE PECUÁRIA»; «DIRECÇÃO GERAL DOS SERVIÇOS FLORESTAIS E AGRÍCOLAS».
A transformação do velho «TERREIRO DO TRIGO» no seu interior, esteve subordinada à «DIRECÇÃO GERAL DOS EDIFÍCIOS E MONUMENTOS NACIONAIS», dirigida pelo arquitecto «JORGE BERMUDES» e pelo engenheiro «DÁCOME DE CASTRO». No edifício após a sua renovação, foram instaladas a «DIRECÇÃO GERAL DAS ALFÂNDEGAS» e seus serviços anexos, bem como a «GUARDA FISCAL»(1937).
TEXTO RETIRADO DO BLOG RUAS DE LISBOA COM ALGUMA HISTÓRIA

LOCALIZAÇÃO







 

Nenhum comentário:

Postar um comentário