o objectivo de terem uma forte presença e visibilidade na cidade, tendo-se encomendado
o trabalho dos escultores mais conceituados da época para a sua ornamentação,
conforme era ainda hábito. No seguimento do novo plano pombalino de reconstrução da
cidade, o chafariz do Loreto viria a ter localização central, sensivelmente onde se
encontra hoje a estátua de António Ribeiro Chiado, segundo desenho dos arquitectos
então responsáveis, Reinaldo Manuel dos Santos e Francisco António Ferreira
Cangalhas. Para este chafariz, cuja construção se inicia em 1771, Machado de Castro
esculpe uma figura de Neptuno, tema comum das fontes e chafarizes desde o
Renascimento. Contudo, este chafariz monumental, concluído em 1774, terá uma vida
extremamente curta, uma vez que vai durar pouco mais do que 80 anos, sendo demolido
na década de 50 do século seguinte.
Apesar de, até ao último quartel do séc. XIX, o fornecimento de água em Lisboa ser
ainda bastante deficiente, dependendo ainda em grande parte dos seus chafarizes,
estabeleciam-se novas noções de saúde e de higiene na cultura ocidental. A presença
dos chafarizes torna-se pois incompatível com a imagem que então se importava;
denunciava o desfazamento da cidade e do país com o que se divulgava das grandes
metrópoles, onde se demonstrava as redes de água canalizada, e uma presença da água
no espaço público cada vez mais exclusivamente ornamental. Em Lisboa, contudo,
hordas de aguadeiros galegos sitiavam o espaço público, onde, esperando pela sua vez
com as suas pipas, soltariam impropérios e se envolviam em rixas.
A “ilha dos galegos”, como era chamado este chafariz, torna-se totalmente incompatível
com o Chiado, a “Ladeira Vaidosa”, centro cosmopolita e burguês de Lisboa do séc.
XIX. O chafariz é pois demolido, mas a estátua de Neptuno foi conservada até aos dias
de hoje e encontra-se no Largo D. Estefânia, inserida numa fonte ornamental.
Contudo, o papel essencial que este chafariz desempenhava para o abastecimento de
água ainda se mantinha: Veloso de Andrade [1851], com efeito, registará 198
aguadeiros para o chafariz do Loreto, sendo assim o terceiro chafariz a agregar mais
aguadeiros em Lisboa. O primeiro era o de El-Rei, com 330, e o segundo o do Carmo,
com 231. A remoção do chafariz do Largo das Portas de Santa Catarina implicava,
necessariamente, a sua substituição imediata por outro.
A concretização do chafariz substituto confirmará esta necessidade. O novo chafariz do
Loreto, mais discreto e mais funcional, haveria de localizar-se não num largo, mas na
então Rua do Tesouro Velho, actual António Maria Cardoso. As imagens que dele nos
chegam revelam-nos, com efeito, um equipamento que, apesar de apresentar alguma
dimensão, já tem uma intenção de ornamento muito menor do que o seu predecessor.
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