quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Praça duque de Saldanha / Cinema Monumental







Praça Duque de Saldanha
 No ano de 1889, no reinado de D. Luís, foi decretado pelas Cortes Gerais o “levantamento” de um "monumento" em homenagem a João Carlos Gregório Domingos Vicente Francisco de Saldanha de Oliveira Daun (1790-1876), 1.º conde, marquês e duque de Saldanha.
Esta estátua colossal foi inaugurada apenas em 1909, pelo rei D. Manuel II, na presença de descendentes do duque de Saldanha, do vice-presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Anselmo Braamcamp Freire, de vereadores, dos membros da comissão encarregue de erigir a obra e outras individualidades.
Esta peça é composta por um pedestal quadrangular concebido em calcário de lióz, ladeado por colunas com capitéis canelados. Na parte superior desta estrutura assenta a estátua pedestre, em bronze, do marechal e duque de Saldanha, representado em uniforme militar completo, numa postura enérgica e vigorosa, própria de um chefe militar.
Na face frontal do pedestal está colocada uma estátua alegórica “vitória alada”, em bronze, empunhando uma espada. Nas outras faces existem outros elementos decorativos, entre eles, o Brasão Real, rodeado por uma coroa de ramos de louro e carvalho; três medalhões simbólicos, referentes à vitória na Guerra Peninsular (1808-1814), às Campanhas de Montevideu (1816-1823) e às Campanhas da Liberdade (1826-1834); assim com três festões de folhas.
As esculturas e todos os elementos ornamentais em bronze foram executados na fundição de canhões do Arsenal do Exército entre 1904 e 1907.


 Cinema Monumental
 Inaugurado a 14 de Novembro de 1951 e teve como obreiro o Arqº Raul Rodrigues Lima (responsável pelo Cinema Cinearte, inaugurado em 1940) que iniciou este sofisticado e complexo projecto em 1944, devido às exigências cinematográficas que se adivinhavam e que glorificariam este cinema como espaço de imagens gigantes, sons estereofónicos e efeitos que faziam estremecer e sonhar.
O edifício era marcado por gigantescas estátuas no seu exterior e o átrio era amplo, um local de passagem e encontro para muita gente, tal como o café-restaurante. Os lustres e mármores aglomeravam-se na decoração do interior da sala e das galerias. A sala de cinema era composta por 2710 lugares e a de teatro era composta por 1182. 
Para rentabilizar melhor o espaço interno, o arquitecto introduziu três balcões que se prolongavam lateralmente até ao palco e ainda dois camarotes “avant-scène” ricamente decorados.
A entrada principal do edifício, comum a todos os espectadores, fazia-se pelo grande vestíbulo principal semi-exterior que, comunicando directamente com a Praça Duque de Saldanha por meio de uma arcaria de volta perfeita, funcionava quase como um prolongamento desta. A sala de teatro, com eixo central paralelo à Av. Praia da Vitória, possuía dimensões mais reduzidas de modo a aproximar os espectadores do palco.
A sala de cinema, com eixo central paralelo à Av. Fontes Pereira de Melo, possuía grandes dimensões permitidas pelo grande ecrã existente e pelos altifalantes que regulavam o som de acordo com as dimensões da sala. Comportando dois balcões, esta sala constituía... a referência mais imensa do espaço-cinema em Portugal : a sala cheia parecia uma cidade!.
No topo do edifício funcionava um atelier (onde se faziam cartazes dos filmes) que, mais tarde,  transformou-se numa pequena sala-estúdio, o Satélite, que foi inaugurada em 1970 com o filme Coisas da Vida  com Romy Schneider e Michel Piccoli.
O exterior do Monumental era de pedra, com colunas, estátuas decorativas e esferas armiláres de ferro que estão actualmente junto ao Padrão dos Descobrimentos, em Belém. Na lateral da Avenida Fontes Pereira de Melo albergou o famoso café restaurante “Monumental”. Muitos dos grandes nomes dos primórdios da música rock portuguesa passaram pelo este palco, tendo ficado na memória de muitas pessoas uma noite a meio dos anos 60 em que os Gatos Negros, a maior banda rock portuguesa na altura, chegaram ao ponto de encherem a Praça do Saldanha, numa altura em que qualquer ajuntamento com mais de cinco pessoas era estritamente proibido. Enquanto uma multidão se juntava na praça, lá dentro milhares de fãs esgotavam por completo o recinto, e Victor Gomes todo vestido de cabedal preto, corria pelo palco de microfone em riste dando os seus famosos saltos à Tarzan levando ao delírio o público. Outros tempos...Neste cinema foram exibidos grandes produções como 20 000 Léguas Submarinas, West Side Story, A Bela Adormecida, My Fair Lady, Ben-Hur, 2001- Odisseia no Espaço e o incontornável Star Wars - Guerra das Estrelas, numa caminhada anunciada para o seu término que ocorreu em 1983, devido á falta de público que justificasse os custos de manutenção
 Antes da sua morte, o Arqº Raúl Rodrigues Lima visionou um projecto que almejava a completa remodelação do Monumental, de acordo com os novos tempos e hábitos do público de cinema. A grande sala dividida em pequenas salas e a entrada aproveitada para várias lojas tornariam decerto o cinema rentável.
Contudo de nada valeu o seu esforço, pois não estava em questão salvar um espaço, mas sim de arranjar uma justificação para vender e rentabilizar o espaço ocupado pelo Monumental.
 Numa manhã de 1984, os lisboetas acordaram com a noticia que não estavam à espera de ouvir que abordava a demolição do Monumental. As pessoas começaram a acorrer ao local em número cada vez maior e a contestação foi enorme. Ficava claro que a C.M.Lisboa era impotente para travar o poder crescente dos empreiteiros da construção civil sobre os imóveis
pertencentes a particulares. A queda do Monumental foi o ponto de partida para a demolição de outros grandes cinemas. Salvaram-se os que foram classificados à pressa como património nacional ou foram convertidos em teatros ou igrejas. A demolição do Monumental traumatizou durante anos os lisboetas, assinalando assim o fim de uma era.
No mesmo local ergue-se hoje um moderno edifício, também chamado Monumental, com escritórios e lojas e quatro salas de cinema, a maior das quais com 378 lugares...um monumento aquém do esplendor que o anterior representava para a cidade de Lisboa.


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