A Rua de “O Século” é um arruamento situado no Bairro Alto, nas freguesias de Santa Catarina e Mercês, entre a Calçada do Combro e a Praça do Príncipe Real.
A Rua de “O Século” foi um topónimo atribuído em 18/11/1910 pela vereação republicana e pretendeu homenagear o jornal fundado em 1881 por Magalhães Lima que foi o seu primeiro director e um ardente paladino republicano, considerando que a sua propaganda tinha contribuído para a democratização do povo português e a consequente implantação da República em Portugal. Até aí esta artéria era conhecida por Rua Formosa, que, segundo o olisipógrafo Norberto de Araújo, era uma denominação do século XVIII que acabou por ser legalizada pelo edital do Governo Civil de 1 de Setembro de 1859. Ainda antes o arruamento era conhecido como Rua do Longo que também segundo Norberto de Araújo, poderá dever-se ao facto de ali ter morado na segunda metade do século XVII um homem de seu apelido “Longuo” que faleceu em 1669.
O Palácio dos Viscondes de Lançada erguia-se na então chamada Rua Formosa, topónimo certamente relacionado com a convivência, lado a lado, de edifícios nobres, sendo vizinho do Palácio dos Carvalhos, onde em 1699 nascera o Marquês de Pombal, e do Convento dos Paulistas, pela parte posterior.
No século XIX o palácio era frequentado por ilustres políticos e intelectuais, reunindo-se nos seus salões e dinamizando as primeiras tertúlias, pontuadas por nomes como Almeida Garrett, Júlio de Castilho, Bulhão Pato, Fontes Pereira de Melo, José Estevão ou Rodrigo da Fonseca.
A partir de finais do século XIX, boa parte da nobreza tradicional abandonava o bairro, que assistia à instalação de fábricas e ao nascimento da maioria dos jornais lisboetas, alterando a funcionalidade de vários edifícios.
Em 1881, instala-se no Palácio Lançada o jornal "O Século", fundado por Magalhães Lima, publicação que conheceria directores do calibre de Vitorino Nemésio. O palácio recebeu então inúmeras alterações, embora o corpo central e a entrada principal conservem ainda as características monumentais setecentistas de origem, tendo-se igualmente mantido a escadaria interior, em mármore, e alguns silhares de azulejos com bastante interesse. A partir de 1905 são adicionados três pisos ao edifício, destinados ao Bairro Operário de "O Século", ocupando ainda parte do que fora a quinta dos Viscondes de Lançada, com entrada pelo n.º 59 do imóvel. A capela do palácio, dedicada a Nossa Senhora do Monte do Carmo, era então transformada em casa de máquinas de impressão.
Mas particularmente ligadas à história do jornal ficariam as obras de princípios do século XX, quando foi anexada uma parte do contíguo Palácio Pombal, reconstruída para receber oficinas, escritórios e uma redacção belle époque, salão amplo e de pé-direito duplo, ritmado por graciosos colunelos em ferro, altos e finos, com capiteis trabalhados, e mobilada com balcões em madeira, cristais e latões dourados, cujo acesso se faz por uma porta rotativa. Na fachada ressalta a ampla utilização do ferro forjado e do vidro, em janelões com guardas de ferro policromado (em vermelhão) típicas da arquitectura da época, e que vazam por inteiro os dois andares intermédios.
Para além do valor patrimonial, como interessante exemplar da arquitectura do ferro e do ecletismo de finais do século XIX e da primeira metade do século XX, parte da relevância deste imóvel prende-se com a própria história da imprensa em Portugal, cuja influência viria mesmo a modificar a toponímia das freguesias do Bairro Alto; assim a Rua Formosa passou a chamar-se Rua do Século (desde 1911), e a Rua dos Calafates é hoje a Rua do Diário de Notícias, para citar apenas os periódicos de maior destaque num movimento que marcou fortemente o perfil cultural do bairro - afinal, na continuação das famosas "conferências" e soirées da Lisboa romântica, que o Palácio Lançada já conhecera.
As antigas instalações do jornal “O Século”, sitas na Rua do Século, n.ºs 41 a 63, em Lisboa, na freguesia de Santa Catarina, encontram-se classificadas como imóvel de interesse público, pelo Decreto n.º 5/2002, de 2002/02/19 (Diário da República n.º 42, I Série-B, de 2002/02/19).
Chafariz da Rua do Século
O Chafariz do Século, outrora chamado Chafariz da Rua Formosa é construído em calcário amarelo e ostenta três carrancas em bronze. Tem uma pequena escadaria de cinco degraus. Localiza-se numa praça em meia-laranja, em frente às casas do futuro Marquês de Pombal. Trata-se de um exemplar neo-clássico ainda de tendência rocaille. Este chafariz era alimentado por uma derivação da Galeria do Loreto, na Pia do Penalva, entre o Príncipe Real e a Rua D. Pedro V. Este ramal foi iniciado em 1760. No ano de 1762 o chafariz da Rua Formosa já funcionava, mas o arranjo urbanístico só terminaria em 1767. Terá sido traçado por Carlos Mardel. Os seus sobejos iam para a casa do Conde de Oeiras. Tinha este chafariz 4 Companhias de Aguadeiros, 4 capatazes, 132 aguadeiros e um ligeiro.
Bibliografia
ANDRADE, José Sérgio Velloso d’ – Memória sobre chafarizes, Bicas, Fontes e Poços Públicos de Lisboa, Belém, e muitos logares do termo. Lisboa, 1851.
CAETANO, Joaquim Oliveira – Chafarizes de Lisboa. Sacavém : Distri-Editora, 1991.
FLORES, Alexandre M. – Chafarizes de Lisboa. Lisboa : Edições INAPA, 1999
LOCALIZAÇÃO
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