Palácio da Independência ou Palácio Almada
É um dos mais representativos exemplos arquitecturais seiscentistas em Portugal. Mesmo assim, apesar de ser visível a sua antiguidade para essa recuada época, ainda podemos andar ainda mais para trás alguns séculos. Há conhecimento de um pergaminho do século XIV com a sua compra quando D. Fernando de Almada, capitão-mor de Portugal, e sua mulher adquirem a propriedade ao fidalgo D. Nuno de Barbudo. Precisamente a altura em que passou para a mão da referida família e passa a ser a sua «casa-mãe» ou «solar».
Ele encontra-se inserido em pleno centro histórico , implantado num terreno com declive ascendente para Este que tem a noroeste a Praça do Rossio, no Largo de São Domingos e à entrada das Portas de Santo Antão, e que ficou encostado à Cerca Fernandina quando em 1509 esta propriedade foi aumentada nuns quintais a Norte.
É um dos raros palácios que conserva chaminés monumentais de raiz quinhentista, exceptuando o Palácio Nacional de Sintra, que graças ao estudo da planta de Lisboa feita por Júlio de Castilho, apurou-se que já em 1572 as ostentava.
Foi lá que, na sua casa, D. Antão de Almada e os 40 conjurados planearam a última reunião que deu origem à Restauração da Independência de Portugal, no dia 1 de Dezembro de 1640, com o derrube do jugo filipino e com a aclamação a rei de D. João IV.
A Câmara de Lisboa, em 1713, recebe o pedido de Lourenço de Almada para que lhe ceda algum chão público para alinhar a frente deste palácio.
Nesta altura terá sido construída a frontaria do Palácio com o seu aspecto maneirista e a pedra-de-armas com o brazão dos Almadas, em pleno, em cima do portão, assim como realizadas algumas decorações como a azulejaria joanina assinada por Gabriel del Barco.
Como pouco afectado pelo Terramoto de 1755, foi o palácio aproveitado para recolher alguns doentes do Hospital de Todos os Santos, seu vizinho, bem como, logo após, em 1756, foi alugado para outros serviços públicos como o Tribunal da Relação, o Senado Municipal e, até ao ano de 1774, com o seu Arquivo Municipal de Lisboa então chamado Depósito Público.
Em 1774 outro D. Antão de Almada, descendente do referido primeiro, mestre-sala de D. José I, regressado dos Açores voltou a habitar o palácio realizando obras de embelezamento do jardim e colocando uns painéis de azulejos alusivos à Restauração.
Em 21 de Fevereiro de 1824, os condes de Almada não se encontram aí a viver e, em 9 de Setembro de 1833, aparecem aos olhos da recente governação liberal como "rebeldes". Por essa altura parte deste edifício surge ocupado, ao que tudo indica pelas palavras apresentadas que terá sido «à força» e sem o consentimento da família Almada, nomeadamente pela Comissão Geral dos Estudos, em Novembro de 1833 e pelo conhecido escritor Almeida Garrett depois de ter participado no Cerco do Porto. Foi assim, que embora mais tarde tivesse sido recuperada a plena propriedade de direito hereditário, este palácio nunca mais foi usado como habitação própria principal, para a família Almada, que passou a ser arrendada e a ter vários inquilinos.
Quando se deu o golpe militar de 5 de Outubro de 1910, que deu origem à República Portuguesa, estava aí instalado o quartel general da 1.ª divisão militar que se rendeu nessa altura.
Anos depois, após esta propriedade ter sido expropriada por acção legitimada por Decreto de 30 de Maio de 1939, em que é autorizada a Direcção Geral da Fazenda Pública a adquiri-lo para a Colónia Portuguesa do Brasil que o doou ao Estado e que este, por sua vez, em 24 de Novembro de 1940, passou-a para a tutela administrativa da Sociedade Histórica da Independência de Portugal (SHIP) que sempre foi o objectivo de todos os envolvidos. Essa associação já aí estava instalada há muito, desde 1861, com a denominação de Comissão Central do 1.º de Dezembro de 1640 e sob a direcção de Feliciano de Andrade Moura, entre os vários patriotas que a fundaram aí, por vontade de Luís de Castro Guimarães, o seu arrendatário nessa época, e com com o apoio do conde de Almada de então. Nesse âmbito desenvolve várias actividades culturais, desportistas e recreativas, assim como, tem partilhado o espaço com diferentes entidades de que se julgue complementar a sua principal missão, de que é valorizar a identidade da nação portuguesa, perante o seus e o estrangeiro em geral.
Após o 25 de Abril de 1974 o palácio viu-se invadido para fazer aí a sede da Associação dos Deficientes das Forças Armadas, por imposição do Movimento das Forças Armadas, assim como, antes delas, a Mocidade Portuguesa e outras associações entretanto desaparecidas após a revolução de 25 de Abril de 1974.
Só em 1983, por despacho do então Secretário de Estado das Finanças, é que foi determinado que o Palácio, na sua totalidade, fosse novamente cedido para a Sociedade Histórica da Independência de Portugal como sendo a entidade legítima para ocupar o edifício, tendo sido elaborado um Auto de Cessão a título precário e gratuito, incluindo as tais dependências ocupadas pela Associação dos Deficientes das Forças Armadas, que se mantiveram parcialmente aí ainda até 1993, dando início a algumas obras de instalação de serviços administrativos, locais de conferencias e um museu da Restauração de Portugal.
Nos anos de 1988 a 1991 fizeram-se-lhe várias obras de recuperação e melhoramento nomeadamente do jardim com a demolição da uma antiga central eléctrica, utilizada pela CRGE nesse local, feito o restauro da muralha fernandina que o cerca e os seus painéis de azulejos dos finais do século XVIII, foi desimpedido o acesso à sua cozinha manuelina e as arcadas da Rua Portas de Santo Antão foram fechadas com vidro.
Hoje estão aí igualmente instaladas, entre outros, por concordância e vontade da SHIP, o Museu da Identidade Lusíada. Assim como as sedes da Comissão Portuguesa de História Militar, do Ministério da Defesa Nacional, mais o Centro de Filosofia Luso-Brasileira, o Centro de Cultura Pedro Hispano e a Universidade Sénior de Lisboa.
Tinha no seu interior um antigo poço, com mina de água de pequeno caudal, hoje tapado com um vidro.
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